quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cartas para Giovanna

Eu sei que estou devendo comentar nos comentários daqui do blog, já os emails direto que recebo trato de responder a todos em tempo, mas de modo especial tenho que escrever para minha Loroca que, - de verdade Lo, não vejo a hora desse período de frio passar para marcarmos um encontro, eu com a minha amora Gi e você com o seu amor Bento <3.

Na verdade com vocês sempre me sinto justificada em minhas sumidas e compreendida em meus devaneios, porque vocês entendem. Isso porque nem eu mesma me entendo.

Hoje, por exemplo, com o relógio marcando as 13:54 eu já cheguei a sentir amor, paixão, ódio, aflição, ansiedade, medo, alegria, tranqüilidade, saudades. Considerando que costumo dormir por volta das 23:00 tenho até receio das emoções que estão por vir. Bipolaridade definiria bem, mas prefiro ficar com meu álibi que esta pendendo para a TPM, porque enfim, os hormônios estão ai para culparmo-los sem peso na consciência. Só que a louca, ops, a pessoa aqui tem pensado muito ultimamente sobre algumas particularidades da vida e no que ela pode refletir na minha bambina. (E se você dizer, pensar, que sentiu mesmo um cheirinho de queimado no ar eu vou ai e acabo com a tua raça) rs.

Papo sério. Tenho refletido sobre coisas que não imaginei existir na vida, muitas das quais eu achei estar protegida, subestimando a tal das lições que a vida se incumbe de nos surra-dar.

E quando essas coisas acontecem, você se pergunta porque tinha de ser com você e observa no universo que o teu problema não é nenhum bilhete premiado, bate até uma indignação com as pessoas ao seu redor: -Mas porque cargas d'água ninguém quis ser meu amigo colocando na mesa o jogo da vida, e me ensinando a brincadeira sem que eu precisasse quebrar a cara desse jeito?

Porque a vida, suas escolhas e o conjunto de toda a história te dá certas lições que algumas vezes são completamente e grosseiramente ministrada na base da porrada e que por vezes podia ter sido evitada com uma simples partilha. Nem aquela corda do varal de casa que minha mãe aninhava em suas mãos com tanto afinco para nos dar umas chibatadas na pernas doeram tanto. Quando minha mãe chamava Elianeeee amiga!Nem vestindo 3 calças de moletom eu me salvava. Dona Ana muito da esperta, via que aquelas pernas de grilo se transformavam em coxa de galinha e, estrategicamente, fazia que ia bater na perna mas sentava o sarrafo nos braços. E doía hein!...Como doía!Não precisava nem ela me avisar da soneca da tarde, chorar da surra por si só virava a cantiga de ninar...Não que isso fosse um ato freqüente, minha mãe até que tinha muita paciência,  colocava de castigo pra ver se eu tomava prumo, mas quando isso não resolvia..: "-Eu to te avisando. Vou te avisar de novo, é melhor você sossegar o facho porque quando eu te pegar...". Minha mãe sim tinha 'a pegada', ela demorava, prometia, algumas vezes a gente ria não levando a sério, mas quando ela batia...Não sobrava vontade de por a cara no portão de casa (e nem coragem). Não aconselho ou farei o mesmo, mas pergunta se alguém de nós desrespeitava ela ou esperneava na rua, se jogava, fazia aquele dramalhão? Com ela era "Sim sim. Não não" Não tinha meio termo, e não precisava repetir duas vezes. E hoje não me sinto traumatizada por isso. Ao contrario. Foram surras providenciais para eu saber do meu limite.

Só que essas surras se aplicavam de maneira produtiva para as minhas peraltices infanto juvenil. Muitas coisas não me foram ditas nem perguntadas, não sei se evitadas, mas sei que não foram faladas não por acanhamento (porque minha mãe tem a boca no mundo), em suma: falta de comunicação familiar.

Minha mãe não falava comigo sobre relacionamentos e quando chegou a falar numa roda de amigas delas que são minhas, (Tia Carminha, Salete e ela) eu me senti desconfortavel: Eliane disse que vai se guardar para um homem só. Eu acho uma bobagem!Pior besteira! Tia Carminha – minha alma gêmea feminina - disse que ficou com o tio Nino e só conheceu ele e se sentia satisfeita e feliz com  sua escolha. Não que minha mãe fosse assim tão liberal. Ah, não era! Mas ela teve muitas lições da vida para dizer o que me disse e que só hoje eu pude entender. Eu mesma não gostava de falar a respeito de relacionamentos, abominava com todas as forças e de todas as formas, toda forma tida de relacionamento: não gostava desse papo de ficar; namorar e me apegar, e essa coisa de casar me causava urticarias.  E se eu contar que batia um certo nojo de beijo na boca? O primeiro beijo de verdade foi terrivelmente traumático, o que me faz ainda nos dias de hoje mudar de calçada quando avisto a bendita pessoa. Pobre coitado. Ele não teve culpa, era um mini jovem bonito, educado, romântico, mas teve o azar de ser a primeira vitima da minha complexidade da época (curada antes do meu namorido e através dele). E pra ajudar, detestando essa historia de beijar (é...ele foi o primeiro no auge dos meus 13 anos), lutava contra a idéia de me apaixonar (embora sempre fui uma romântica incorrigível, poetisa de berço), mas o coitado do cara se apaixonou. Começou a querer ir todo dia na porta da escola (aquilo foi me irritando), cabulava e dizia que era um gesto de amor porque sentia saudade (fui ficando fula da vida), as pessoas foram sabendo da história (me sentia na teia de uma aranha moça, de tanto pitaco que tive de ouvir) e por fim, quase todo dia começou a bater cartão na porta do seu primo, vizinho de frente da minha mãe, e quando eu mal colocava os pés no portão de casa “Oi Eliane”... (ai eu perdi o eixo!). Numa dessas eu me enfezei, liguei o radio no ultimo volume e coloquei uma faixa do cd da Sandy e Junior para tocar:

“Ce ta queimando meu filme. Se toca meu, cai fora daqui. Ce ta queimando meu filme e eu já to que to pra explodir. Eu não quero nunca mais te ver, vai ver se eu to na esquina e para de me encher. Ou então porque você não vai Piiiii”

E enquanto a musica rolava, eu cantava a plenos pulmões. Eu sei, é muita maldade, mas o garoto estava prendendo meu ar com essas atitudes e eu já tava cansando de fugir dele pelo portão dos fundos da escola, e agora isso? E porque beijei então? Armaram para mim: Festa de aniversário do primo, este, vizinho meu. Todos de casal, eu boboca que era, ficava com aquela cara de tapioca sem recheio e segurando vela dos casais ali presente. Não que fosse meu hobby segurar vela, até retrocedi na vontade de ir a tal festinha, mas você sabe como é que fica uma menina tonta na mão das que se acha mais espertinha... Daí que de repente, não mais que de repente os casais saíram todos do quartinho do tal vizinho, o garoto (trabalhado na idéia injetada pelos seus amigos de me beijar) flertou comigo e eu sorri com jeitinho acanhado como quem até quer mas não sabe nem o que esperar. Só que não esperava a surpresa de terem nos trancado no quarto...Ele colocou suas mãozinhas no meu ombro e tascou-me um beijo, aqueles “completo”. Meu estado pós beijo foi muito simples: um rosto que parecia ter sido lambido pelo cão Bethoween da sessão da tarde na Globo. E para piorar, tive de encarar todos os olhares que nos encaravam pela fresta da janela e ainda a fazer “aeeee”. Era o fim da picada! O Garoto segurou minha cintura. “Opa, mas que história é essa meu rapaz?!” não disse nada mas me indignei. Bati na porta para que abrissem, e saindo do quarto encarei as garotas que eram amigas de ginásio e corri como uma boba para o portão da minha casa (era a única ação que eu conseguia ter até os meus 21 anos). As meninas não entenderam minha reação. Nem eu. Sempre idealizei o primeiro beijo e nele seria como o trecho da musica que diz “Me passam coisas que não compreendo esta em tudo o que eu penso. Sonho e desperto com teu olhar, quando me olha me sinto linda. Me passam coisas que não entendo, estou diferente, há algo novo. Me da vergonha se ele descobrir (...)Te quero mais que um amigo... " aquilo estava bem longe de ser o que eu sonhei. Não senti aquela sensação tão falada de friozinho na barriga. E aquela platéia na janela? Tortura total. Ja em minha casa, deitei na cama e pensei - Porque me irritou tanto aquele beijo? Adormeci sem respostas. No dia seguinte, um domingo, o garoto que vez em nunca aparecia por lá, estava no portão da frente da casa do primo. As bochechas incendiaram. Depois conversei com ele. Até que ele era legalzinho. E pra tentar ser do mesmo ‘nivel’ das garotas até pensei: quem sabe aceito seu cortejo, quem sabe a gente até namora? Com tanta patada, fugida e toco, você pode imaginar o que ele fez né?

Não..não pode! Mas acredite, ele soube dar o troco!!!

Ele, que se mostrou tão apaixonado, começou a ficar com uma super amiga minha da escola, a mesma amiga que me incentivou a namora-lo, dar uma chance a ele. Nos horários de aula de educação física, todos estavam na quadra, ele cabulava a aula dele e ia ficar com essa amiga. O ficar virou namoro. E eu? Me mordi de ciúmes! Ciúmes não né. É mais aquele sentimento mesquinho e pobre de querer dar o toco e querer inconscientemente que  a pessoa fique ainda te lambendo...Enchendo nosso ego. Não que eu quisesse necessariamente que ele ficasse me lambendo, mas que também não ficasse esfregando na minha cara o namoro com a minha até então ‘amiga’. E as outras garotas fazia cada pergunta: Como se sente? Nossa, mas você não acha demais eles assim? Aqui? Eu respondia que pouco importava já que a única coisa que eu queria é que o sinal batesse e  encerrasse aquela aula de namoro (ops, educação física). Não durou muito para eu respirar grata a amiga pelo favor que me fez...

E ó, essa atitude com o garoto não ocorreu por eu me achar não. Eu não era linda de bonita: magrela, nariguda, tímida, desengonçada, do que diziam de mim ‘uma pessoa doidinha’ (o que dizem até hoje, mas não faço o tipo e nem questão de ser normal mesmo!rs) Tinha a fala presa, me vestia muito mal, tinha a alto estima no pé, faziam de mim gato e sapato, além de ser extremamente chorona e medrosa de tudo e todos...

Como eu falei acima, sempre tive aversão a relacionamentos. A origem de tudo isso eu reconheci anos depois. Num futuro ainda conto...

Meses depois fiz um teste numa agencia de modelo e a partir de então participei de alguns desfiles, teste para comercial, uma fase bem bacana mas de muita “maquiagem” por assim dizer... Não sei como, mas a historia correu por toda escola e de um dia para o outro, muitos (a) que sequer falava comigo viraram meus “amigos" (como se eu tivesse no auge da fama, rá!), além de muitos comentários maldosos...Quando começou a popularização sobre meu nome e o meu trabalho eu cai fora da escola. Faltava em 4 das 5 aulas da semana até que minha mãe viu que já não tinha mais o que fazer, e que nada me faria continuar a estudar naquela escola! Interessante que o reflexo desse meu tempo ate o ginásio é que eu não tive ali uma amizade profunda com ninguém daquele tempo. Em sua maioria converso, tenho carinho. Mas foram amizades rasas.

Na escola que entrei foi maravilhoso (mas de inicio apavorante). Minha mãe me alertou sobre isso mas eu teimei em mudar. Não era a melhor em matéria de conteúdo e aprendizado além de ser tida como de péssimos frequentadores. Mas eu não me importei...Tudo ia bem até que a fama se espalhou sobre eu estar fazendo passarela e ai azedou o pé do frango de vez: marcaram de me surrar na saída da escola!Tudo começou nos horários de intervalos quando algumas garotas falavam comigo ironizando “Oi Gisele Bündchen” ...Tem uma garota  que não podia dar n’outra e hoje esta trabalhando com toda sua ironia no programa do pânico na TV, até hoje não converso uma frase completa com ela. Quando nos encontravamos até rolava um oi. Porque a educação é sempre bem vinda. Fui salva pela pessoa mais popular da escola Laynne, que somado a ela me tornei a segunda popular, e tudo isso no auge da minha timidez e inocência. Por que com 15 eu tinha um coração e mente de 6 anos...E uma fragilidade estampada na cara. Essa nova amizade foi uma ponte para eu confiar em mim, já havia recebido um alicerce para  a ponte com a amiga Marcione, mas  relevância foi a idade de ambas, uma um ano mais velha que eu e a outra quase 10 anos, amabas com ensinamentos diferentes...

Voltando a Laynne, foi uma amizade bonita, construtiva, umas das melhores pessoas que conheci nessa fase de transição do ginásio ate o colegial e que com ela me trouxe muitos outros amigos, esses que são os The Best até os dias de hoje, padrinho de casamentos, de filhos...Amigos pra tudo, desde sempre.

Muitas das coisas que me chateavam eu não tinha a quem contar. Quer dizer, contava a um diário anual que escrevia todas as noites sobre meus dias,  a luz de uma vela a beira da cômoda ao lado da minha cama, embalada pelas trilhas de Love Song’s.

Eram bons tempos. De certo. Lembro que ainda que estivesse chateada por algo do meu dia, ao tocar aquela musica tão querida "The Bild" e que eu nada compreendida em sua letra eu levantava e de madrugada ficava em pé dançando na cama. Me sentia livre. Cheia de possibilidade e abraçada pelo mundo em todas elas...

E o que esse aglomerado de informações tem a ver com o titulo do texto little Ely? Bem..muitas historias depois, muitos caminhos, muitos erros com significantes acertos, e cá estou eu pensando de tantas coisas que vi, hoje forte, confiante, determinada, com ousadia na medida certa, perseverante em tudo o que faço, ligada na única opinião que me importa (Deus), mas que pensa que muita coisa poderia ter sido dita pela minha mãe, minha irmã, minha tia qualquer ser humano, entendido e vivido que me poupasse de certas situações não necessárias a se viver para alertar-me, e livrar-me dos muitos sobressaltos que a vida coloca diante de nós... Faltou alguém que me alertasse sobre certas razões que são loucuras, e das loucuras que tem toda razão de ser, acontecer e existir. Ou que me disesse que a vida é tão breve, leve e linda para ser levada tão a sério, com tudo ao pé da letra...Faltou alguém que enxergasse aquela dificuldade de aceitação que tinha comigo mesma. Que partilhasse sobre a delicia de ser o que sou, como sou, mas que me contasse também das dores dos meus dias ao avesso sem trazer com essa partilha um certo pessimismos, mas que me ensinasse que na vida tudo pode ser revertido em aprendizagem, maturidade, amor, liberdade...Alguém que me revelasse pela sua própria historia da beleza de se viver, amar, acertar, errar, escolher, lutar, fazer a vida valer a pena com o que REALMENTE importa (muito embora isso seja relativo a cada pessoa).

Então que a partir de uma reflexão particular e de modo especial através do trecho da canção abaixo, eu vi tive uma ideia:

“As idéias estão no chão. Você tropeça e acha a solução." Titãs

E não é que é?!rs
se sentindo inspirada.”

Fiquei pensando no quanto quero estabelecer um dialogo com a Giovanna. Sei da importância do amor, segurança, confiança a ser estabelecida entre pais e filhos com estes ainda pequeninos, e sei que os frutos quando adultos são os melhores possíveis.

Não tive muito isso em minha infância. Aquele ditado “Deus te crie”comigo realmente funcionou, rs

Bom...Ainda não falei no que pensei, não é? Em cartas!  Cartas para Giovanna. Serão assuntos aleatórios com o único compromisso de partilhar com a bambina as alegrias, surpresas, armadilhas, escolhas, amores, entre outros dessa faceira arte de viver...Tudo regado com muito amor. Vida, escola, infância, adolescência, descobertas, amigos, amores, profissão, vocação...Claro que sei que não vou escrever nenhum tipo de “formula” ou “receita” do tipo “O que fazer?” para ser feliz, “Como não cometer tais erros”...Até porque certos erros tornam-se nossos maiores acertos, quando visto com sabedoria, e  cá para nós, se eu tivesse alguma formula de vida feliz, de erros e acertos, juro que já teria bolado um jeito de colocar numa linda embalagem, com um laço bonito, e disponibilizado à venda nos melhores shoppings de mundo...(Além de estar feita na vida nesse exato momento rs).

Não sei ao certo o que pode isso significar para ela, se em sua vida terá importância. Só espero que ela acolha o que for util e não faça das minhas palavras um guia, uma direção, mas uma motivação a mais pra que ela seja como realmente é, que faça as escolhas ouvindo o seu coração, sobretudo a Deus,  e que fique claro que em toda e qualquer situação eu estarei ao lado dela, para ouvi-la acolher e respeitá-la em suas escolhas e caminhos...
 
E o papel e caneta esta disposto sobre a mesa.
Coração aquecido. Nem sei por onde começar...Hum...Acho que pelo obvio.
Num futuro post você pode confirmar se é obvio ou não...rs
 
Beijos com asas
 

4 comentários:

  1. Muito interessante Ely, uma boa idéia! Beijocas!

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  2. Ely e suas excelentes idéias nossa eu queria ter uma Ely por perto como queria
    Eita mulher que sabe expressar sentimentos,emoções vida,dia-a dia em palavras.

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  3. amiga não sabia que já foi modelo
    também linda assim parabéns
    mainha tb me batia
    mas sempre era uma surra produtiva rs
    amei a Carta.

    Linda Noite!
    Beijinhos da Nanda
    Mamãe de Duas

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  4. Ô minha querida amiga! To me sentindo mal agora por ter demorado tanto pra ver seu recadinho pra mim. Fiquei desconectada esses dias. Mas você sabe o quaaanto quero conhecer vocês pessoalmente, ne? Não vejo a hora!

    Sabe que, se isso já não estivesse encaminhado, falaria que você devia era escrever um livro. Mas já teve gente muito da espertinha colocando isso em prática! Rs! Sorte da bambina que vai ter muitas boas lições de vida e amor com essa mãe tão especial que ela escolheu.

    Beijos, queridona minha! E um especial para essa pequena princesa.

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Beijos com asas,
Ely