quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Mãe de UTI - Afago de Deus

A primeira noite longe da minha bambina foi de coração inquieto, que oras estava agitado, oras sem vontade de bater. O corpo estava cansado, pedindo repouso, relaxamento, mas a mente não parava. São tantos sentimentos e pensamentos que brotavam que eu me virava de um lado para o outro sem conseguir de fato descansar...E só para ajudar eu passei a madrugada toda com dor nos pontos. Ainda  acordei por volta das 4:00am pra novamente tomar banho, passar a bendita Andolba e tentar aliviar a dor que de tempo em tempo voltava. E quando finalmente consegui pegar no sono o Rafa me acorda avisando que tínhamos perdido a hora - já passava das 10:00. Respirei fundo, o que traduzindo em palavras seria: "não acredito que no primeiro dia longe já não chegarei a tempo de vê-la!", mas como já havíamos perdido o horário continuamos deitados, ambos estavam esgotados.  O horário de orientação com a médica da manhã é as 10:00 e já que não acordamos em tempo, resolvemos levantar com calma e chegar para a visita das 15:00 para orientação com a médica da tarde. 
Quando me levantei para tomar banho me recordei do dia anterior, de nós, eu e o Rafa, de frente para a encubadora olhando a nossa menininha tão amada, com aquele rostinho miudinho tão parecido ainda com um feto, a fragilidade é tanta que se outra pessoa a visse poderia até pensar ser impossível progredir, pela miudeza do corpo, pelos aparelhos. Por alguns segundos tive medo de perder-la. Embora senti no coração a felicidade da Gi ter a oportunidade de lutar pela vida, o que me fez forte para encarar o seu nascimento tão prematurinho, eu também receei se nas condições que ela estava - ela era pele e osso, estava em oxigenação invasiva, sog, picc -, sob quais condições o seu desenvolvimento iria ocorrer. E a vontade de que fosse eu a estar passando por tudo aquilo ao invés dela era tanta...mas tanta...Vendo o quão aflita eu estava, o Rafa me fez trazer à memória o que as freiras tinham dito no ano passado (contei aqui). "Eliane, Deus te prometeu, lembra?"...Percebendo que não havia nada que ele pudesse falar pra que eu parasse de chorar, ele apenas ligou o som e colocou num dos grupos gospel que eu gosto muito, mas que ele mesmo não costuma ter iniciativa de ouvir (não gostava), eu já estava pronta pra entrar no chuveiro quando ele abriu a porta e disse: "Ely, ouve essa música."

Dá-me um sinal do teu favor
Mostra-me ó Deus que comigo esta.
Vem fortalecer meu coração.
Preciso de tí pra não desmaiar.

Arranca de mim este pranto de dor.
Me veste com veste de louvor
Com óleo da alegria me unges
Com teu espirito vem me curar.

Não haverá impossíveis para o meu Deus
Suas promessas Ele me fará viver
A espera não pode matar a esperança
E as lágrimas Ele enxugará
Com milagres!

Muito mais do que os olhos podem ver
Muito além do que dá pra sonhar
Os Teus milagres, ele me fará viver!


Era tudo o que eu precisava ouvir naquele instante. Lembrei que em muitas vezes enquanto ainda tomava o ácido fólico e estava nas tentativas eu escutava e cantava essa canção na certeza de que não importa o quão difícil fosse, tudo daria certo. Lembrei também de tudo o que eu e o Rafa fizemos juntos pra ter essa graciosa bambina, e de toda reserva que me impus até ali pra que o nosso sonho se tornasse realidade, e que por tudo isso e muito mais eu não poderia me permitir ter pensamentos negativos a essa altura do campeonato. E sobretudo lembrei do que pedi a Deus, lembrei da força com a qual supliquei uma resposta de que, de fato, eu poderia tentar engravidar, e por fim, firmei em minha mente e coração as palavras ditas pelas freiras, do que as pessoas sonharam, dos sonhos que eu tive com a Gi, de modo especial o qual nos orientou quanto ao seu nome..Entrando debaixo do chuveiro e deixando a água cair sobre mim, desejei lavar não só o corpo, mas meu coração, como se aquele ato pudesse renovar-me por inteira para suportar tudo o que estava por vir.


Ao chegar no hospital fui direto para o lactário para coletar leite, e como tinha leitinho! 440 ml numa única tirada. "Alguma coisa tinha que funcionar nesse corpo." - era o que eu respondia quando as outras mães falavam da quantidade do leite que eu coletava, e olha que ainda era colostro. Descobri naquele lactário que leite materno vale ouro, de tanto trabalho que se tem ao apertar daqui/dali pra sair uma gota a mais que seja e assim colaborarmos com a nutrição e ganho de gramas de nossos babys.  Cheguei a comentar com algumas meninas no lactário que já é a segunda vez que tiro leite  na bombinha e que depois de todas essas experiencias certamente meus seios nunca mais serão os mesmos (se bem que namorido disse que estou no momento auge da fartura de busto. Run!Oportunista rs.). De qualquer modo, é apos essas fases que podemos nos valer da cirurgia plástica. Vai que?!Né?! 

Como passei uma noite sem tirar leite, formou nódulos no meu seio, precisando de ajuda de outra pessoa pra massageá-los e assim conseguir coletar. É, eu chorei. Embora senti muita dor e sensibilidade nos seios, desconfio que o choro foi mais pelo medo do meu afastamento da bebê do que qualquer outro motivo que existisse, inclusive pela dor. Tão logo o relógio marcou o horário de visita...Eu estava animada e ansiosa por ve-la. Na noite anterior, a Gi ainda tomava apenas 1 ml de leitinho, e quando me dirigi até a UTI tivemos a surpresa dela estar mamando 2ml de leite de 3 em 3 horas via SOG, ela também recebia nutrição parenteral. Cheguei até a brincar: "Gente!Mas 1 ml só vai sujar a seringa, é uma gota!" Era o que ela poderia receber no momento e tudo seria inserido no tempo dela, de acordo com seu desenvolvimento. Ficamos com a nossa menininha que já estava com outra corzinha de pele, até o ultimo horário de visita (21:00h)...Entre uma conversa e outra com ela, cantei as canções que costumava ouvir e cantar pra ela na gestação. Namorido ainda tímido, conversava com ela, mas sentia-se acanhado pra cantar perto de mim (além dos outros pais equipe médica que entrava e saía da sala...). Eu é que esquecendo de tudo ao meu redor que não fosse ela, deixava todo amor do coração transbordar, fazendo do nosso amor uma canção, nossa conexão, nosso jeito de estreitar o laço maternal, já que segura-la no colo, toca-la inteiramente não era possível (ainda).
Voltei pra casa já contando as horas pra tornar a vê-la, mas com o coração em paz.

Filhinha minha, como você é forte!Me surpreende te ver assim, um ser tão pequenino e frágil, porém tão forte  e guerreira. Lute minha menina, lute por você, por nós, agarre a oportunidade que Deus lhe concede de viver!!!!!! E quanto a esses dias de UTI será dias de vitória, e cada dia passado, menos 1 dia de UTI.

É assim que veremos as coisas a partir daqui: 
Cada dia uma vitória, e menos um dia de UTI!!!
Porque você já nasceu vencendo meu amorzinho. E depois de sair vitoriosa dessa situação, acredite: Você poderá ser e fazer qualquer coisa nessa vida! E eu estarei sempre ao seu lado pra te recordar que você é capaz!!!
Beijos com asas pra que de onde estou voe diretamente ao seu coração. Te amo do tamanho do universo.

Afago de Deus

13 de Agosto de 2013
Hoje a visita à nossa bambina foi especialmente marcada pelo mimo de Deus ao nosso coração. Eu não tinha ideia do que estava por vir. Eu soube que a higienização e troca da encubadora é feita de 7 em 7 dias, e justamente hoje após o horário da visita, a troca seria feita, e Dra estaria nos permitindo segurar a Gí no colo. "Segurar?" "Claro que quero!" "Mas não vou machuca-la? Sei lá, ela é tão magrinha, 830 gramas, posso aperta-la...Ai meu Deus..." Eu falei tantas coisas, e ria ao mesmo tempo que emocionada os olhos enchiam d'agua, tudo pelo nervosismo e insegurança que aflorava o meu coração...E logo  hoje não levamos a câmera. Graças a Deus a Renata, mãe do Natan também prematurinho de 26 semanas, cedeu a câmera para registrar o momento.
As enfermeiras e técnicas ficaram super animadas, celebrando esse momento junto conosco. Na ocasião a Bruna uma das técnicas de enfermagem vibrava conosco, era uma torcida pra que o momento de, pela primeira vez, coloca-la em meu colo acontecesse... 


Eliane Nascimento Sopran - Viver, Amar, Fazer Valer a Pena!!!
O coração acelerado. As palavras que foram ditas entre sorrisos e lágrimas, de emoção ao segura-la no colo pela primeira vez. Como poderia temer? Terei coragem! E não deixarei que nada tenha sido em vão. Principalmente quando vejo que nossa pequena luta pela vida, vencendo todos os obstáculos, como um verdadeiro milagre de Deus! Filha eu lutei todo esse tempo por acreditar que esse tempo chegaria, e agora Deus finalmente trouxe o seu coração ao meu. Não teremos pressa, pois sabemos que cada dia escreverá uma história de amor e milagres. E a cada dia estaremos um passo mais perto de estarmos dia-a-dia juntas!

Minha Menina, amor maior...
Eu nunca encontrarei as palavras para expressar o que senti ao te ter em meu colo pela primeira vez.
Meras palavras não poderiam explicar.
Pequena guerreira,
Como poderia imaginar que um pequeno ser tão frágil e ao mesmo tempo tão forte,  iria prender a minha vida à sua com um laço eterno de amor incondicional?! Ah como eu te amo! Contigo em meus braços o tempo simplesmente parou.



Preciosa filha, não sei se percebeu os meus braços rígidos, e eu chorando copiosamente pelas duas horas que seguiram enquanto a tive em meu colo. Eu sequer ousava me mexer...Papai preferiu não segura-la no colo nesta primeira oportunidade. É  que tanto ele quanto eu estávamos inseguros por tua fragilidade. Mas minha menina, mesmo com toda essa insegurança, nos deixamos conduzir por tua força e garra em viver! E celebramos esse momento especial como um  afago de Deus em nós.
Porque Deus nos abençoou quando nos deu de presente você! E cada palavra que eu escrever é pra dizer do amor e gratidão a Deus e a você por ter nos escolhidos a ser seus pais.
Bambina minha,  eu e seu papito nessa luta vitoriosa contigo.
E  daremos o melhor de nós pra que cada avanço seu aconteça!






12 comentários:

  1. Amiga, eu choro muito lendo teus posts, mas choro de emoção, de lembrar tua luta... a Gi é guerreira que nem a mãe, forte, destemida! Que Deus abençoe tua família!

    Ansiosa para os posts seguintes!

    Orando sempre!

    Beijo

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  2. Ely!!! Que post emocinante!!! Chorei!! Bjs

    http://meumilagrerealizado.blogspot.com.br/

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  3. Quanta emoção ,rimos,nos emocionamos é muito amor,e cuidado de Deus familia abençoada,guerreira.Deus os abençoe

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  4. Nossa to aqui em lagrimas lendo o post, Parabéns por ser tão guerreira, deve ser dificil demais ficar longe da sua filha Mais deus provera e logo ela estara com voce beijoos

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  5. Quanta emoção,parabèns pela sua força ,parabèns pela garra!
    Que Deus abençoe muito sua família e muita saùde pra vcs :)
    http://simplesedocebyleh.blogspot.com.br/

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  6. Toda arrepiada. Vocês são muito especiais!

    Bjs

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  7. Eli, minha linda amiga e super mamãe; estou sempre acompanhando as notícias da Gi, a sua família está sempre em minhas orações.
    Que Deus continue iluminando cada um de vocês..
    http://ahistoriadeumatreinante.blogspot.com.br/

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  8. qnta emoção...cada relato seu me faz ter mais esperança, me faz mais feliz e crente em Deus! Amiga, te amo grandão viu...obrigada pelo recadinho, bjo

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  9. Ai amiga cada post seu,me derramo em lagrimas. Quanta emoção segurar sua bambina pela primeira vez. A Gi é uma guerreira. Beijos,ótimo final de semana. www.aesperadomeubernardo.blogspot.com.br

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  10. Linda,sei bem todas essas emoções,meu filho nasceu de 25 semanas,com 680 gr,quando eu o vi a primeira vez,era um misto de felicidade e angustia.Felicidade por ele estar tendo a chance de lutar pela vida,e angustia,por um ser tão pequenino,tão frágil estar passando por isso pra me fazer feliz.Eu me sentia uma bruxa,sério,pensava,quanto egoísmo da minha parte,ai orava,orava,orava,e dizia a Deus:Senhor se ele estiver sofrendo,passa pra mim.Pai se estiver sentindo dor,pode levá-lo,pq eu sou grande,vou chorar,vou sofrer,mas eu vou me recuperar,ou ao menos saber conviver,mas ele tão pequeno e tendo que lutar como gigante...-Nossa foram 120 dias numa eterna montanha russa,dias o Emanuel estava bem,dias o Emanuel estava mal...Mas sabe o que eu aprendi?Que esses pequenos são muito mais fortes que sonhamos,que eles são ungidos,e preparados,e amparados por Deus,que tudo que eles passam,tenho certeza que tem um anjo ao lado,confortando quando a gente não está junto,acalentando,e sussurrando no ouvido deles,vai ficar tudo bem!!!!Então minha linda,tenha certeza que a Gi já é mais que vencedora,e com carinho e acalento dos pais ela ainda vencerá mais e mais...Ah deixa te contar,hj meu pequeno já não é mais tão pequeno assim,tem 3 anos e 10 meses,e é um espoleta...Prepare-se a Gi tb será uma espoleta,esses prematurinhos tem uma sede de descobrir tudo incrível,kkk.Bjão flô (não tenho blog :( )

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  11. A história de vocês é emocionante, li e amei.
    Muita saúde e força para sua menina e para o casal.
    Bjs

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  12. Força e fé amiga Ely! Deus é contigo!

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Beijos com asas,
Ely