terça-feira, 17 de setembro de 2019

Broken

Eu era pequena, o ano 1995 quando, o unico e mais seguro formato para manifestar meus sentimentos eram as folhas rosadas do diário de flores que acabara de ganhar de presente da minha irmã.
Nele continha um cadeado. Senti-me segura (criança que era), de me despir dos medos, dores e  traumas que se repetiam como que com imagens gravada em meu olhar, e que, como um ladrão de sonhos, me aprisionou por muito tempo na ideia de que eu não poderia sair daquela teia que teceram sobre mim.
1995, 8 anos. 
Eu tenho muitas lembranças bonitas da primeira infância, dos sorrisos gostosos do meu padrinho.
Do cheiro de bolo e de suspiro caseiro feito pela madrinha.
Das falacias do papagaio do padrinho que gritava "Conceiiiçãoooo...Conceiçãooo.." rs
Do balançar da rede na area da casa deles. 
De estar por entre as arvores das frutas que são hoje minhas favoritas: pé de uva, de goiaba, jaca...
E das broncas que repetidamente eu levava quando em minhas peripécias, machucava as flores de girássois que o padrinho tanto preservava.
Estar e viver no lar deles era o meio de manter a organização do lar e me manter em segurança que minha mãe - mãe solo de 4 filhos (dois meninos e duas meninas), encontrou para conseguir administrar, casa, filhos, trabalho e conciliar a rotina de maneira que todos pudesse estar bem. 
Era eu a caçula da turma dos 4 filhos e, agora que paro para refletir sobre aquela garotinha de 8 anos, era a mais dispersa, sensivel e de baixo estima que já me deparei em toda minha vida.
Apesar disso, até a quarta série com a melhores notas de toda turma.
O pontapé da cobrança em ser melhor na escola veio da irmã mais velha, que muitas vezes assumiu o papel maternistico quando ainda era criança como nós.
E a vida em mim gritou em partes pela vida dela.
Nossa diferença de idade não é assim tão grande. Hoje, essa menina mulher tem 32 anos, a irmã creio eu 39 anos. 7 anos imagino de diferença.
Nas memorias registradas, lembro dela me ensinado - do jeito dela, bruto de ser rs, as primeiras leituras. Dos cuidados com meus cabelos e comigo de modo geral. Com meus irmão.
= Nada de rua! =
= Que letra é essa? presta atenção ou voce vai apanhar!!! =
= Se bagunçar a casa eu te ponho de castigo! +
= Ja deu de brincadeiras, vai tomar banho agora e ficar dentro de casa. =
= O que foi Eliane? Ele esta incomodando você? = (falarei sobre ele em outro post)


Nas refeições improvisadas com o que tinha, ela desenrolava algo melhor, fazendo um bolo surgir  na nossa mesa de café da manhã. Apesar de saber quem é a sua mãe, quando criança, quando seu irmão(ã) exerce esse papel, existe um desdobramento emocional que te leva a validar essa figura como uma figura não somente do lar, que esta cuidando de ti, mas materna também. E apesar de não verbalizar isso, para o irmão mais velho(a) cuidar da manutenção efetivar:impar, lavar, cozinhar e cuidar(educar) seus irmãos mais novos, embora some uma bagagem de responsabilidade é de certo modo um fardo pesado quando voce teria o mesmo direito de ser criança e desenvolver na curva da sua idade como os demais. Mas na maioria das vezes, os irmãos mais velhos perdem parcialmente a vivência disso quando se tornam co-responsaveis pelo lar e pela vida de alguém, o que nesse caso significa manter a todos em segurança e bem cuidado.

Poucos anos depois minha irmã se mudou para não tão longe de casa, geograficamente falando, mas na construção do seu próprio lar por um motivo muito nobre, que não caberia citações pessoais por se tratar de outra pessoa. E eu...bem, eu senti muito. Muito mesmo.

Existia cuidados diarios por parte da familia digamos que 'adotiva', estes então padrinhos e madrinhas, já citados por aqui no blog, mas que eventualmente também me 'devolviam' para passar um tempo em casa, com minha mãe e meus irmãos.

Eles sabiam que eu era diferente das outras crianças, mas nunca perceberam e/ou não pergutaram se havia algo de errado. Se alguém tivesse feito algo comigo.
Na verdade, ninguém percebeu.
Mesmo tendo os registros marcado entre as canecas coloridas dos meus diários, ora borrado pelas gotas de lágrimas que selavam em palavras a ferida latente e dolorosa que se abriu em meu peito.
Na minha época precisavamos de permissão para falar entre os adultos.
E quando falavamos, eramos desacreditados por quem deveria nos 'ler' nos notar, compreender as mudanças, para auxilio em nosso desenvolvimento,porém infelizmente na minha casa, como em muitas outras do mundo inteiro era despercebidos.
Cultura de uma época, dinamica familiar com pais trabalhando para suprir seu lar...Há muitas situações que enseja nisso. Se você é de uma 'época' como a citada, compreenda após uma reflexão o que levou seus pais a conduzirem sua criação da maneira como foi, apos uma cronologia dos fatos.
Iniciarei aqui uma jornada que para mim, sem entender o porque de utilizar-me daqui, será como que um catalisador até chegar na cura.
Na minha propria cura interior.
E se você, de alguma forma tiver folego,  tolerância  e preparado para examinar a si mesmo (porque em algum momento dessa leitura isso vai lhe remeter), para ser o melhor que pode ser, por ti e para os que estarão nessa jornada cruzando com a sua estrada, continue por aqui.