Mãe de UTI: Por que a Vida só Acontece Onde Ela Estiver

09 de Setembro de 2013


Hoje voltei a ver o meu biscoito. Achei impressionante como alguns dias afastada já fez com que ela estivesse mudada em sua fisionomia. Cada dia mais linda!!!
Neste período em que o Rafa esteve acompanhando a Gi sozinho, ele fez amizade com praticamente todos da UTI (o que me faz crer que eu estava sendo introvertida, coisa que não sou. Sei lá...é de se pensar). Fato é que, todos estão mais receptivos comigo, mais amigos. Ou será que foi eu quem me abri e relaxei um pouco mais? Pra falar a verdade sei que o Rafa abriu o caminho. Eu não sei me relacionar quando fico sob tensão.
Embora fiquei sentida em não ver minha bambina, reconheço agora que ter ficado longe foi bom  pois sinto que fortaleceu a minha confiança na equipe médica (em seus 4 turnos)  e me ajudou de certo modo a relaxar. Se é que posso considerar que ficar em casa com toda rotina #limpa casa, lava roupa, passa, cozinha#  relaxa...
Mas o que importa é a bambina. Linda, já com seu primeiro kilinho, cabeludinha e agora sem PICC no braço... Só o que falta é tomar juízo pra ser extubada. E eu fico contando os dias.

A Dra Ti falou que a Gi esta estável mas ainda com anemia, o que necessitou de nova transfusão. Nós continuamos pedindo aos amigos que doem sangue, por questões de saúde apenas o meu irmão pode doar de minha família, da família do Rafa a tia dele Sonia e seu esposo Rafael doaram, o que ajuda a repor estoque de sangue do hospital e me torna eternamente grata por esse gesto tão lindo e nobre na vida da minha filha e para os que venham necessitar de transfusão de sangue.

Fiquei pensando enquanto retornava pra casa em como a saudade cresce no coração da gente. Em mim a saudade era tanta que a vontade que sentia era de abrir a encubadora, tirar ela lá de dentro e encher de beijos, abraços, mordidas na pequena bochecha que esta começando a se formar, enfim, vontade de amar com toque, cheiro, respiração e não apenas no olhar. Mas o amor não se limita, por isso sei que ela sente  o que tenho guardado aqui no meu coração reservado especialmente pra ela, um amor pleno que transmito a ela da forma que no momento nos é permitido em se relacionar: toques de leve com meus dedos acariciando parte de seu corpinho, olhares, eu falando e ela ouvindo...E retribuindo com um sorriso pra mim, pro meu coração.

" Bambina minha, Longe de você fico assim, distante, fora do eixo, o pensamento alça voo ao teu encontro...Sou como o céu sem luar, sem estrelas pra brilhar, sentindo no peito uma solidão, tão somente retornando minha paz no momento em que posso pousar meu olhar sobre o seu. É que a saudade de te ver vai se agigantando em tudo que sou e por onde vou. O que posso fazer? Sou prisioneira do teu amor. E nesses momentos o coração vai me dizendo que a minha vida só acontece onde você estiver. Amo você  ....To longe, mas to perto."

11 de Setembro de 2013

Hoje, pela segunda vez, segurei a bambina no colo. Ontem a Dra. Ti disse que me daria esse presente, mas como com prematuros cada dia é cheio de surpresas e considerando que tivemos outras tentativas porém adiadas, eu precisei ver pra crer. Confesso: dormi pensando, sorrindo deitada na cama só de imaginar a cena. Olhei a fotinho dela, beijava-a como se a Gi estivesse ali na minha frente...Contei os segundos, minutos, horas, desejando que a madrugada fosse a mais curta possível pra que logo acordássemos e fossemos ao hospital.

E quando lá cheguei, a única frase que tive tempo de me dizer foi: Aguenta ai coração! 

A primeira vez que a segurei ela tinha apenas 6 dias de vida, deixando aquele gostinho de quero mais! Mais proximidade, mais calor humano, mais denguinho da mamãe na minha bambina (e menos chororô que cá pra nós, nessa primeira vez era tudo o que eu conseguia fazer, chorar litros, oceanos...), e o contato não foi tão próximo já que a bambina era muito piquitíca, com apenas 830 graminhas, e eu achava que qualquer movimento que eu desse poderia desmonta-la. (Pra falar a verdade de tão receosa que eu estava, não me atrevia a mexer o braço, isso por quase duas horas, o que causou uma dor...Mas que valeu muito a pena.)
Hoje o fato se deu por ser a troca de incubadora, gerando esta 'oportunidade' pra nós. E foi diferente, melhor, pude sentir sua pele, o calor, conversar e cantar sussurrado e vê-la adormecer ali, em meus braços. 

É uma emoção minha, com a mistura da emoção das mães que estão lá dividindo nossas histórias, das técnicas de enfermagem, enfermeira, fisio, da própria Dra Ti.
E quando chegou o momento me pedem pra sentar de um lado, antes de colocar a bebe no meu colo, não dando muito certo troco de lado e eu já aviso que é melhor ser a última troca de cadeira porque o coração vai ficando tão acelerado que deixa a mãe aqui de pernas bambas. E o melhor dos momentos começa a acontecer:

"Com ela eu aprendi o gosto do amor, e o nosso amor lavou a minha dor. Junto com ela eu inventei o mundo todo azul, perdi o medo, duvidei da solidão, mas fui tão longe...tão longe que eu nem sei voltar,  e agora nem posso pensar que ela pode de repente me deixar. Por ela roubei o brilho das estrelas, não tenho mais identidade e na verdade eu vivo por ela, e vou com ela aonde for. (Trecho da música: Viver por Ela)"

Ela, sendo cuidadosamente colocada em meus braços. Saturação 98%, 99%, chegou até 100%. E ainda mamando leite materno pela sonda. Nos 10 primeiros minutos somos assistidas pelas técnicas pra confirmar que tudo segue bem. E ficou tudo bem. É a essência do amor de família, pai, mãe, filho que não tem explicação mas é fonte de cura e força admirável. É semelhança de Deus.
E quando senti que estávamos mais a sós (neste ato com a técnica a alguns passos de distância), cantei e conversei com ela enquanto ao tocar os seus pés ela responde o estimulo mexendo pés,  mãozinhas. (ou se irritando: "Ai. Para de me cutucar mãe!" rs)...
Pouco tempo depois é chegada a hora da bambina ser aninhada em sua barriga de aluguel (encubadora).
Sei que foi maravilho para nós duas. É um tempo pra nós, de vontade e necessidade de sentir-nos mais próximas como sempre foi e sempre será. As técnicas falou que a Gi esta até mais corada pós colo.
É o colinho de mamãe. Não podia ser diferente!
E a mamãe volta pra casa com o coração transbordando de amor, me sentindo até mais leve.
A sensação é como se tivesse tido a alma lavada e purificada no amor.
E nesse momento só consigo voltar pra casa agradecendo a Deus dizendo:
Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada,Obrigada...
Por tudo o que tem feito por nós, por tudo o que vai fazer e do que nos faz viver, obrigada Senhor!!!!

23 de Setembro de 2013

Sábado e ontem foram dias difíceis...Ainda estou me recompondo, sentindo dor de cabeça da tensão que segurei no momento, e sendo necessário me fazer de forte, sobrou pra quem? Pro leitinho da minha bambina. No domingo teve uma queda brusca na produção. 

Se é o sistema neurológico que manda a informação de que meu corpo esta ótimo e vendendo leite, eu logo tratei de dar uma dura em mim mesma e no meu psicológico pra voltar as boas com as tiradas de leite. "Pode não sinhô que minha menina é nutrida por isso!" - Como se adiantasse brigar......Leite que tiro na bomba, num lactário, leite que escorre da ordenha até a mamadeira...leite que é pasteurizado, aditivado...Até que, enfim, seja servido para a Gi via sonda oral gástrica...Então me fala: posso com isso de dar um breque na produção? Não, não posso. Hoje até melhorou...até que começo a sentir uma dor estranha e por consequência não quis amizade com muita gente por hoje não - mas sem antipatia, sou daquelas que mesmo com dor to sorrindo, só que fico mais caladinha. E e eu quieta? Ah! Com certeza é de se estranhar!

Além da tensão com a Gi, tensão também pela partilha com outras mães de uti que também tomou um susto com seus babys...Vim ontem o caminho chorando... Como dói o coração da gente. Como tudo isso gera ansiedade, tensão, receios...Mas inexplicavelmente, no meio de tudo isso, apos aliviar o peito com o choro, com a partilha, voltamos àquela bem dotada paciência que somos "convidadas" a exercer quando Deus nos escolheu para sermos mães de UTI.

E paciência aqui na UTI é lema...

Se paciência é virtude de mãe, então certamente a  mãe de UTI  é a mestra.
Acredito que a virtude de Jó (da Bíblia) em ser paciente só foi pautada como referencial porque na época não existia a tecnologia para UTI neonatal...Porque ser mãe de UTI é ter paciência pra dar e vender. Digo isso não só pelo meu caso, mas de outras mães com bebês ainda mais grave, bebês que são verdadeiros milagres!!!
Dias como neste último sábado, eu descubro que ser mãe de UTI é exercer uma paciência e força que você nem sabe que tem. É ser pega no susto, sem preparação, e ser calejada com o ritmo hospitalar e suas surpresas diárias, são as famosas "intercorrências".
Em dias como esses dá aflição só de ouvir o alarme do oxímetro disparar de segundo a segundo.

Então só podemos ter paciência, embora tendo ou não, é a situação atual que precisamos passar.

Hoje uma das meninas até brincou a respeito disso: "Aceita que dói menos."
A gente ri pra não chorar em certas horas....

Mas graças a Deus hoje a Gi esta estável, pesando 1.405 kg. Perdeu muitas gramas, ficou 12 dias sem engordar devido algumas intercorrências (edema pulmonar, infecção hospitalar), logo, seu peso tinha estagnado conforme a médica esperava e que no momento era o melhor pra Gi, mas agora vai melhorar, tenho fé. Além disso as apneias, cianose, abdome distendido, flácido e globoso,  e agora essa displasia pulmonar. Deus meu.Tem horas que é por pouco não ser eu a fazer apneia.

Principalmente quando a Gi resolve fazer uma apneia na minha frente, como no sábado, uma daquelas feias que necessita chamar médico, aumentar parâmetro, com bradicardia (queda dos batimentos cardíacos)...

O interessante é que depois a boneca me olha com aquele rostinho fofo e inocente, como se nada na vida tivesse ocorrido. Se colocasse um oxímetro em mim seria constatado que a cada gracinha da Gi a minha saturação cai de tal modo como se estivesse sido jogada de um penhasco.

Tem uma técnica super engraçada aqui que diz o seguinte:
A gente elogia a criança, diz que ela ta super linda, estável, só que se ela ouve...Babou tudo. O segredo é não deixar ela ouvir...Agora, caso ela ouça e fique fazendo graça, nós damos uma surra de cotonete no bumbum dela que é pra ela se comportar.

É só de brincadeira filha... Giovanna, como te amo...Tanto tanto tanto...Mas para de graça hein!rs


Dia 25 de Setembro de 2013

Tem tanta coisa acontecendo, são tantas as intercorrências, tantas lutas, não tem jeito de o coração não doer. Mas nem posso pensar em esmorecer, ela é tão forte, guerreira, tem tanta vontade de viver.
Eu só quero pensar que não importa quais sejam as barreiras, os obstáculos que apareçam na nossa frente. Ela vai vencer cada etapa! Nós vamos vencer!
Eu não sou a única,acho que toda mãe deve ser assim. Qualquer coisa que façam com nosso filhos, e que, sabemos que vai doer,doe no nosso coração primeiro, e até tempos depois. Foi como hoje, que, na tentativa de pegar a veia dela, ela levou 8 picadas e todas sem sucesso, ficando toda roxa, mãos inchadas, pés inchadinhos, necessitando até de bolsa d'água morna. Até as técnicas se chateiam por que elas vibram quando conseguem pegar a veia de primeira, mas não deu...
E embora eu preferia não vê-la passando por tudo isso, sei que cada momento nos trouxe a isso. E a cada dia estamos um passo mais perto  . 
Em vista do que ela já passou, isso não é nada.
Mas fico com o coração partido. Não tem jeito.
Filha, seja ainda mais forte! Por que cada dia é menos um de UTI, logo, cada vez estaremos mais  próximo de estar em casa.
Amo você do tamanho do universo.

27 de Setembro de 2013

Ontem a Gí pesou 1.545 kg e esta mamando 30ml do meu leitinho via SOG (pra quem começou com 1ml, 30 é um verdadeiro banquete,praticamente um big mac, rs).
Ela realizou um exame de rotina hospitalar e apontou uma bactéria que colonizou, nada grave para ela, mas que em contato com outros bebês poderia contamina-los, por isso, ela e mais 3 bebês que apontaram a mesma bactéria estão em isolamentos de contato numa sala a parte.

Tantas situações, tantos livramentos que não sei escrever sobre eles, e só posso agradecer a Deus.
Outro dia minha mãe falou, de inocência, o seguinte:

"Tadinha, ela já nasceu sofrendo."

"Não mãe! A Gi já nasceu vencendo. E depois disso, acredite! Ela será capaz de conquistar tudo o que desejar, de bom coração!!!!"

Falo isso porque vejo nela mais vontade de viver do que em muitas pessoas que conheço. É impossível não olhar pra ela e para os demais bebês no leito de UTI e não se inspirar por tamanha força, vontade de viver!
Mamãe já te admira tanto filha!

29 de Setembro de 2013

Pequenas importantes alegrias

Quando a bambina nasceu,ela deu uma choradinha quase como uma miada. Até questionei: "Dr. Ela chorou?" "Sim, o que você ouviu foi um chorinho mesmo, de dois segundo, mas foi choro."
De lá pra cá ela não chorava,por que estava entubada, mas graças a Deus, agora esta no cpap, dando um novo passo, e tendo a garganta livre (apenas com SOG).
Hoje quando li o prontuário dela:

Choro:

( ) Ausente

( ) Fraco

(X) Forte

Meu Deus, que alegria, que orgulho!
Minha menina agora consegue chorar! E eu babo, coloco os ouvidos na abertura pra acesso das mãos na encubadora só pra ouvir um tiquinho do choro e só depois dar um dengo na kiança pra ela parar de chorar...O MÃE BOBA!
É tanta luta que qualquer passo dado é motivo de alegria, comemoração. Nada passa em branco. Em tudo agradecemos a Deus.
E com isso já percebo a mudança que Deus faz no nosso coração, principalmente no que diz respeito aos detalhes da vida, que fazem toda a diferença!
Deus obrigada pela choro da bambina. Pequenos detalhes, tão importantes pra vida da minha menina.

30 de Setembro de 2013

Hoje percebemos que a Gi começou (sem estimulo da fono) a fazer sucção. Daí que a Dra pediu que eu colocasse a luva para colocar o dedinho na boca dela. Mesmo com CPAP e SOG ela conseguiu sugar o dedinho por cerca de 30 minutos sem apresentar queda de saturação, mantendo a saturação em 100%. A Dra Tí e as técnicas até comentaram o quanto este ato acalmou a Gi, e nas palavras dela, disse "Nós temos que bater palma pra Gigi, olha que linda!"

Fiquei numa felicidade que só! Graças a Deus.

Quando ela puder mamar no peito (assim que não mais precisa de aparelho para respirar), ela vai conseguir mamar sem tanto trabalho, ao que tudo indica. Ficamos felizes pelo pequeno passo dado.

Meus olhos, (como sempre) forma piscina d'água.

Cada dia uma vitória e menos um dia de UTI.

Deus obrigada pelo 'Sol' que a cada novo dia brilha mais em nossas vidas.