Ele é amor, e o amor não sabe fazer outra coisa contrária a amar

Hoje foi um dia delicado...A Gi esta bem graças a Deus, mas teve inúmeras quedas de saturação, apnéia; Quando a vimos estava cansadinha pois precisou ser manipulada algumas tantas vezes por conta das quedas de saturação e por consequência da queda dos batimentos cardíacos, logo, pouco pude toca-la, trocar nosso calor, nossa fala ao toque uma da outra, nosso jeito de se comunicar além da fala e dizer: estamos juntas! Tudo para não desgasta-la ainda mais...Ela permanece estável. Difícil descrever aqui agora esses termos médicos que não quer dizer necessariamente que nada ocorreu, mas que tudo ocorre dentro do esperado em se tratar de uma pequena guerreira prematura. E você não pode imaginar como é sentir vontade de chorar e ser forte pela sua preciosa filha, e até pelo seu esposo que esta ali com tanta saudade de olhar naquele rostinho angelical que tudo o que sabe fazer é babar a cria, apos ser afastado de visitar a filha por quase duas semanas por conta de um resfriado e que de certo modo fica sem ter o que fazer diante da fragilidade da "Vida" das nossas vidas. 

Eu não chorei...Não tenho motivos pra chorar. Giovanna esta bem! Algumas intercorrências, sim - outro termo médico, mas a Gi esta bem.

E ainda que tivesse de chorar, não do lado dela, que tem me ensinado que força e fragilidade, medo e coragem são complementos um do outro, e que ambos nos ensinam a ir além do que julgamos conseguir viver, suportar...E Vencer!

Chegamos do hospital por volta das 23horas, enquanto marido pede uma pizza venho abrir os emails, abro até o facebook...Vejo a postagem de uma pessoa:

"Quem adora a Deus tem direito ao impossível"

Na hora pensei nos nossos bebês da UTI, nas amigas que fiz e das histórias de nós, mães de UTI que partilhamos ao longo do dia, já que passamos a maior parte do nosso tempo do hospital, voltando pra casa apenas pra dormir, tomar banho... E infelizmente é inevitável não falar/lembrar das perdas. 

Dói meu coração só de lembrar, de falar...Todos os dias peço a Deus pela Giovanna e por todos os bebês das UTI's do Brasil e do mundo, o que peço pela minha filha, por sua recuperação, desenvolvimento dos órgãos, ganho de peso, que não tenha sequelas, entre outros, peço também a todos os demais que passam ou passará pelo mesmo.

É impossível estar nessa situação e não se compadecer comas outras vidas.

Mas diante da perca, o que se pode dizer?

Que direito ao impossível é este que se dá a alguns e a outros não?

Pensei: "Não estamos falando do mesmo Deus, já que o que eu conheci até aqui é todo amoroso..."

E como explicar o fato de causar tanta dor pela perda que poderia ser evitada se o impossível fosse feito na vida daquele bebê, daquela família?

Isso quer dizer que aquela família não O adorou como deveria, e por isso Deus os puniu?

Será que eu também fui punida com a perca da Isabella?

Uma vida seria assim usada para ferir a outra? Não é este Deus que eu pude conhecer e segui até aqui...
Então que a melhor forma de tirar todo sentimento e pesar que ficou dentro de mim por conta de uma simples frases foi em escrever...

É algo que eu soube de muitos anos - seja por meio de observação e até por experiência própria - de que, o Criador, movido de ternura e compaixão pela sua criatura se inclina para abençoa-lo, ainda que este não tenha os "méritos" pré estabelecidos pela sociedade, por questões de ética e moral ou até para os atributos do sagrado. Anos atrás...e embora eu soubesse, nunca fez tanto sentido quanto agora, desde a dimensão do Seu amor a nossa facilidade em O abandonar; da fragilidade a força humana que Ele nos constituiu; do medo e coragem que embora opostos são complementares; e da razão e fé - duas asas distintas que nos elevam até Ele...Também tivera ouvido indagações a este respeito, entre elas uma a qual sinalizei como reações do irmão daquele citado filho pródigo: Mas como? Eu mereço mais que este, sempre estive ao Seu lado....Olha o que Lhe fez?...

Pode-se reconhecer numa mãe/num pai certos traços (embora imperfeito) do perfeito jeito de ser e agir do Criador em "aceitar" o tempo de sua criatura, em suas inúmeras idas e vindas embora a ânsia seja de ser e estar junto, viver e se dar em amor, em ser um.

Com o Criador se aprende que aceitar esta profundamente atrelado a amar...

O Criador se faz valer de todos os caminhos que percorreu sua criatura. Principalmente dos momentos incertos...

São nos momentos incertos e até de reclusão que o ser humano se reconhece limitado, necessitado do seu Criador, nesses momentos é que se sente na alma a fragilidade e doçura da expressão 'ser humano', ao passo em que (sem perceber) deixamos de tentar entender e passamos a experimentar interiormente de toda essência suave e acalentadora do que um dia se ouviu dizer ser a bondade e amor incondicional deste Criador que nos fez a Sua imagem e semelhança, Criador do qual chamamos de Pai, Deus, Papai do céu... 

Nesses últimos dois meses tenho lido muita coisa, sentido tantas outras, vivido em um mundo que não sabia existir cujo impacto me fez analisar minha própria vida, minha história que não é diferente das de muitas que conheci, mas também não é igual...

Dei por mim das inúmeras vezes em que fui enérgica por coisas banais, ou nem tão banais assim mas que requeria de mim a suavidade e amor com que a vida me presenteia, com que o próprio Deus me dá na oportunidade de cada dia recomeçar.

Hoje me vejo representada em dois personagens de uma mesma história naquela parábola do filho pródigo.

Sei que pode parecer confuso como em boa parte eu o sou, mas isso não importa além do que descobri de muitos anos e tem ficado mais forte até aqui...

O Pai não beneficia tão somente os que O adoram; É que não se trata apenas de direito, e sim de herança porque não importa o que façamos, o quão imperfeitos somos, Ele é amor, e o amor não sabe fazer outra coisa contrária a amar. 

E embora sendo humanos errantes, os olhos dEle nos reconhece como filhos, amados, acalentados por um Pai que não pede feitos, nem graça ou que O conquistemos pra receber dEle o direito as Suas benevolências, porque na verdade Ele já nos concedeu isso na oportunidade que nos da hoje de viver, lutar e vencer!

E isso me basta pra dizer a todo momento, repetindo como que um mantra: Obrigada meu Pai, meu Deus, meu Senhor.